Bem sabemos que a reforma agrária é mais do que uma necessidade para o país, além de ser a única saída para a fome em todo no Brasil. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva sempre acatou as demandas do MST. Em sua Carta aos Brasileiros, prometia: “valorizar o agronegócio e a agricultura familiar”. Bem sabemos que o agronegócio foi valorizado, dado o superaquecimento do mercado. O boom da soja fez com que o primeiro governo Lula inicia-se um maior comprometimento com a indústria, criando fortes vínculos com a cidade. Vendeu para o exterior toda a soja que pôde. O latifúndio iniciou um forte movimento contra ele, falando que isso seria contra todos nós, pois o campo era contrário à cidade. Agora, dado o retorno do pós-neoliberalismo, é preciso reunir novamente os trabalhadores que ficaram para trás nos anos antes. Quem deve ficar para trás é a direita.
Sabemos muito bem que o governo atual (de esquerda) agora está mais disposto a realizar todas as reformas fundamentais de que o Brasil necessita. Vai implantar a jornada máxima de 8 horas, vai continuar realizando a reforma agrária, inclusive repondo a inflação. Nós defendemos um movimento muito amplo que pressione os governos municipais e estaduais para a realizar estas e outras reformas sem as quais o país jamais será melhorado. A reforma mais importante, justamente a reforma agrária popular a qual defende o Movimento Sem Terra, não é uma pauta apenas desta organização, mas de todo o povo. Tal reforma instigará uma completa transformação econômica, gerando trabalho, comida barata de qualidade, alimentando a indústria nacional – tendo em vista que novos polos industriais poderão ser construídos em torno das novas zonas rurais repovoadas – e gerando uma poderosa força contra a destruição de todo do capital financeiro. Para que a reforma agrária popular seja possível, deve-se então organizar toda a população em torno de um movimento de caráter inteiramente contestatário contra o sistema capitalista, com manifestações organizadas pelos sindicatos e greves dos setores mais importantes da economia, como educação, indústria de base e comércio. Manifestações serão necessariamente de caráter progressivo – o povo deve ter muito presente que lutar apenas por salários não adiantará! Podemos ter inúmeras pautas, sempre falando de reforma agrária nas manifestações, já que esta é uma pauta importante para todo o proletariado e os camponeses. Mas o mais importante é que a reforma de base que se impulsione sem medo por uma irresistível onda revolucionária estejam organizadas em torno de pautas que contestem o poder do latifúndio e do capital financeiro. Este sempre opõe aos interesses do povo os interesses dos grandes proprietários, os quais determinam todas as condições da produção nacional. As cooperativas agrárias se encarregarão de fornecer às famílias condições de obter da terra os frutos necessários para sua subsistência, mas também (sem faltar) todo o alimento necessário para abastecer todas as cidades.
O Estado feito pelos grandes proprietários vai impor a todos os produtores as condições cada vez mais difíceis de crescimento, diminuindo o preço de todas as coisas, uma vez que, com toda a automatização, as mercadorias serão produzidas mais rapidamente ficando mais difícil obter em troca das mesmas o dinheiro necessário para repor ao capital constante e ao capital variável suas necessidades fundamentais. No final das contas, o que realmente acontece é que todo o dinheiro que deixa de ir para a pequena e média produção acaba sobrando para o lado do monopólio. Isto não é bom para o povo. O que acontece é um grande desequilíbrio no mercado, onde os pequenos e médios produtores mantém seu nicho em troca da deflação e desvalorização de suas próprias mercadorias, mas como o dinheiro que não vem para eles acaba indo para os grandes proprietários monopolistas; os mesmos acumulam mais capital e realocam sua produção de forma a que o povo fique desabastecido, gerando um movimento inflacionário que seria ainda maior do que o do período de 2018 e 2021 caso Lula não tivesse baixado o preço das coisas.
Os soviets, campos de construção mútua de ideias entre os proletários, pequenos proprietários urbanos e camponeses devem tornar-se uma realidade. Os soviets podem ser definidos por serem campos que se propõem a conquistar o poder. Na Rússia, começando em 1905, os soviets foram inaugurados a partir de uma greve geral. Precisamos imitar e aperfeiçoar esta experiência: os soviets devem surgir como principal objetivo para que defendam o direito de reunião dos trabalhadores.
Os soviets são organismos majoritariamente proletários. Nestes, todos os presentes podem falar e votar. É natural que todos tenham este direito, pois queremos construir uma sociedade justa e igual. No entanto, ainda assim precisamos alertar o povo revolucionário de que a própria caracterização política dos soviets é principalmente operária, isso sempre. Podemos definir os soviets como reuniões amplas e regulares onde o assunto principal é o modo de vida operário e a política relativa a essa classe. Portanto, devemos ensaiar desde já uma organização de classe onde os pequenos proprietários possam entender a importância protagonista da classe assalariada. Os pequenos proprietários tem uma importância fundamental na greve geral, em manifestações e em tudo o que for de caráter político na luta de classes contra o latifúndio e o capital monopolista. Mesmo assim deve reconhecer que somente seguindo à risca a classe proletária pode-se chegar a algum lugar. Negar este princípio da luta de classes é também negar qualquer possibilidade de mudança real na própria situação da sociedade e da transformação dos pobres em classe média! O único caminho seguro é o caminho da construção de uma alternativa de poder: os soviets. Na Rússia, os mesmos foram usados por muitos anos antes mesmo de se tornarem em definitivo os campos das massas no poder. Os soviets podem e devem se espalhar mundo afora, ajudando as massas trabalhadoras a se organizarem não só nacionalmente, mas também a nível internacional.
Por fim, é nosso dever usar de todos os meios para levar as massas populares à compreensão da necessidade de se lutar pela manutenção do governo de esquerda. Mas para isso não podemos ignorar a necessidade de organizar a classe em torno das pautas mais imediatas da classe trabalhadora: jornada máxima de oito horas, inspeção operária nas fábricas, reposição da inflação, reforma agrária popular etc. Palavras de ordem como essas devem ser o eixo de nossos próximos movimentos. O Passe Livre Estudantil também deverá ser fundamental. Essa conquista será importante para facilitar o acesso de todos os estudantes das classes menos abastadas às escolas e faculdades, aumentando o nível cultural do nosso país, e assim gerando mais consciência das necessidades políticas do mesmo – auxiliando na importante tarefa de livrar o país do mal do capitalismo. Não se pode, não apenas nas eleições mas também em qualquer momento, dar um voto sequer de confiança às promessas demagógicas da direita, pois eles querem o fascismo. Nossa tarefa agora é criar nossas próprias alternativas de poder.
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